Ruminanças V


Daniel FV - 27/09/10

Um fato inusitado.

Hoje, 27 de Setembro, dia chuvoso e bucólico carregado da mais doce nostalgia, aconteceu-me um fato inusitado que me ensinou muito sobre mim e sobre o meu "mundo".

Pegar o transporte no Bairro São Vicente para ir ao trabalho no centro da cidade é rotina. Tão rotina que acabei pegando o ônibus errado (ou certo?), pois essa semana não haveria aulas de reforço no centro da cidade. Eu já sabia que o coletivo em questão daria a volta na cidade inteira para depois passar pelo meu bairro, mas como eu não estava disposto a pagar pela passagem novamente, resolvi relaxar e aproveitar a "viagem".

Bom Despacho é uma cidade pequena. Não diria que é uma cidade rica. Quando limpa, pode ser muito bonita! Observava ao longo da longa jornada tudo o que passava aos meus olhos, e lembrava o quanto a gente deixa de perceber detalhes na correria do dia-a-dia... se bem que eu nunca fui de deixar de notar imagens, sons e cheiros atrativos à minha pessoa. O tempo úmido trouxe aos meus sentidos o cheiro das plantas molhadas. O cheiro nobre dos ipês e o doce odor das gramíneas, não há cheiro melhor no mundo! Nem mesmo o da pessoa amada! O cheiro das plantas é eterno e não está em você todos os dias. Você não pode escolher ter o cheiro das plantas quando bem desejar... Pelo menos não aquele cheiro voluntário do desabrochar das flores.

Passei por todos os tipos de bairros, vislumbrava as casas mais humildes e ignorava as mais pretensiosas. Não que eu não seja materialista, tenho também a minha cota de ambição, mas estar em simplicidade é a forma mais próxima de estar com Deus e de ter um LAR. Eu talvez tenha passado os melhores dias de minha vida em casas muito humildes, mas providas de atmosferas extremamente acolhedoras!

Lembrei-me da Chácara do Curral, onde nunca fui tão feliz com a presença de meus avós maternos, tios e uma "penca" de primos. Lembrei-me da casinha de minha saudosa avó paterna em Conselheiro Lafaiete, onde mal haviam camas para todos, mas não faltavam aventuras na miúda "fazendinha". Lembrei-me de vários amigos de infância e de como suas casas eram emersas em alegria e boa recepção. Lembrei-me até mesmo de algo recente que foi o Sítio Sossego em minha vida. Lembrei-me do companheirismo dos amigos em uma casa tão humilde que nem tinha fornecimento de água potável ou saneamento básico, mas que atraía tantas pessoas e amigos pela nossa hospitalidade e pela visão da linda gameleira com a mesinha de madeira à sua sombra, centro de farras e conversas sobre a vida.

Em um momento de compaixão, tive pena daqueles que têm os olhos enclausurados para as coisas mais simples, como o cantar de um pássaro ou o florir de uma quaresmeira. É uma pena que enxerguem somente notas, status e pessoas em sua frente.

Vi várias igrejas e templos ao longo do caminho, e refleti sobre a necessidade de o homem ter fé em algo. Vi o quanto isto é importante! O homem necessita ter fé em si e em algo que o conforte, seja qual for a sua crença (ou descrença). Eu, por exemplo, "quebro a minha cara" todos os dias com minha crença no ser humano, mas nem por isso deixo de acreditar no mesmo (desconfiando). Afinal de contas, nossas vidas terrenas estão nas mãos dos homens! Precisamos das pessoas desde o dia em que nascemos! Infeliz da pessoa que não reconhece essa necessidade tangente, e acha que pode viver por si só. E que Deus, seja lá qual ou o que for, cuide de mim de acordo com os meus passos na Terra após o maravilhoso martírio neste grande planeta.

Durante o trajeto não vislumbrei somente o passado, mas pensei também no futuro. Descobri que já não o temo mais como temia antigamente. Encontrei-me em uma profissão que venero desde antes de qualquer coisa. Para exercer tal função são necessários dois dons: O dom de lecionar e o dom da humildade, do reconhecimento do erro. Nasci dotado dos dois e trilhei o caminho dos mestres. Aprendi e ainda aprendo com os melhores! Quanto à solidão que sempre temi, sempre foi minha amante, e não há como negá-la em minha vida.

Ao longo da viagem, conheci uma Bom Despacho que não conhecia (literalmente), mas também conheci algo que eu havia perdido em algum lugar pelo caminho desta nem tão longa vida: A minha pessoa.

Nunca fui tão "EU" em minha vida! E divido isto com vocês, leitores! Vocês conhecem parte de minha vida que nem minha família conhece!

Agradeço o apoio e o incentivo de vocês, amigos! Sim, eu não deveria reconhecê-los por outro "nome" que não fosse por "AMIGOS". Sinto-me reconfortado ao saber que não sou o único a pensar da maneira que penso, sinto-me aliviado em saber que, onde quer que vocês estejam, concordam em pelo menos alguns pontos comigo.

Quando o caminho ficou para trás e os pulmões voltaram a respirar os ares do centro da cidade, comecei a me desprender de mim mesmo, faltavam cerca de 15 minutos para o fim da "viagem" (após decorridos curtíssimos 50). Ao chegar perto de meu ponto, abri os olhos como quem acorda de um sonho e fui retomando minha consciência portátil. Deu-me uma pontada no coração!

Pensei se eu deveria escrever minha experiência aqui. Foi uma decisão fácil!
Afinal, este blog sou EU, e sou EU quem vos escreve!

Abraços, e muito obrigado!


.

3 comentários:

Anônimo disse...

O privilégio é meu de ter você como AMIGO. Sim, da mais pura amizade que há: assim como os "melhores cristãos" são os que creem sem nunca terem visto o Senhor, também meus "melhores amigos" nunca me viram de perto, mas sabem o mais profundo de mim e partilham o mais íntimo deles. Como você, Daniel! (Mas a gente ainda há de se encontrar pra tomar aquele refri e falar do GALO) :-)

yna disse...

aihn Dani ... não tenho palavras pra dizer, mas é fato que você sabe que concordo com tudo isso ... as suas "escrevinhanças"me fazem um bem danado!

Daniel FV disse...

Yna! que bacana saber que você lê os meus textos! Fico ainda mais feliz com o blog! Você mais do que eu conhece tudo o que eu disse, e acredito sim que valorize sua experiência da mesma maneira!
Bons tempos! Sinto muita falta de todos vocês!
Beijos! Fique sempre com Deus!